domingo, 13 de setembro de 2009

OS JOVENS E O PATRIMÓNIO NAZARENO: UM MAIL DE INÊS ESPADANEIRA

A propósito do próximo debate, a Equipa PCN recebeu no dia 7 um e-mail de Inês Espadaneira, 28 anos, residente no Concelho, que merece a atenção de todos os que se interessam pelo Património Cultural da Nazaré e que, com a devida autorização da sua autora, aqui publicamos:

“Bom dia.
Chamo-me Inês, sou licenciada em Gestão Turística e Cultural, resido em Famalicão e é com muita pena que não posso participar e assistir ao debate por vós concebido.
Considero os temas a abordar deveras importantes, não só para percebermos como está o Turismo na Nazaré presentemente, mas também para obtermos uma boa visão de futuro.

No que respeita ao abandono do Centro Histórico, a meu ver este acontece por lá não existirem condições que permitam que este seja condignamente habitado. Falo do saneamento básico, do tráfego que existe, de muitas casas estarem devolutas e com elevados níveis de degradação. Penso que se observa na Nazaré um pouco o que se passa na Baixa de Lisboa, que foi abandonada aos poucos por estes e outros motivos como a insegurança mas que está agora a ser reabilitada.
Na Nazaré urge usar instrumentos que captem a população para que nele volta a habitar, fomentar a sua reabilitação através de incentivos, através de fundos que existem, manter as ruas limpas, restaurar os edifícios que se encontram devolutos e ao abandono.
Um Centro Histórico bom de se ver é bom para viver. Um Centro Histórico bem tratado capta os turistas a explorá-lo é até uma mais valia que os faça permanecer na vila por mais tempo.

A pergunta que quero deixar é a seguinte:
Se existem planos ( PDM, PP, PU) que regulamentam a tipologia de construções urbanas a efectuar por forma a que estas não descaracterizem a envolvente em que estão inseridas,porque razão na Nazaré assistimos a uma construção que nada tem a haver com a tipologia habitacional da vila?É muito engraçado existirem prédios,até pode estar na moda a sua construção, mas não deve esta ser adequada à tipologia urbana?Não considero muito bonito ver prédios de 3 e 4 andares quase lado a lado com as casas típicas e com o Centro Histórico.

No que concerne à Nazaré como destino turístico, esta é uma questão que dá pano para mangas.
Nos idos anos 50,60 e 70 a Nazaré terá sido de facto um destino de eleição, mas após os anos 80 veio a estagnar a entrar num declínio de elevadas proporções.
Penso que este problema se deve à falta de visão de quem manda e de quem trabalha nesta área. Desde há alguns anos para cá que não se pode pensar que o facto de se ter uma praia e meia dúzia de estabelecimentos hoteleiros faz com que a Nazaré seja um destino porque não o é. Esta mentalidade é inconcebível no século XXI. Ao turista este pensamento já não serve, não é já suficiente o nome Nazaré a mais praia tradicional de Portugal ou algo semelhante, nem as 7saias, nem o peixe seco. No Verão a grande maioria dos turistas fica na Nazaré somente umas horas porque não há nada que o cative a ficar. Não existem infra-estruturas, não existem empresas vocacionadas por exemplo para o touring cultural ou para o turismo de natureza, o património nazareno não é valorizado, nem mostrado,muitas igrejas estão fechadas e as poucas que estão abertas não têm ninguém que possa fazer uma visita guiada ao monumento. Não existem percursos culturais para que os turistas possam conhecer a vila a pé por exemplo.
A representação da Câmara Municipal na Bolsa de Turismo de Lisboa é mínima, e a BTL é o evento onde a Nazaré se pode e deve fazer promover junto do público mas também das outras empresas e operadores que lá se encontram.
Em termos de futuro fala-se na afamada Marina e no famoso Golfe. Estes produtos como âncoras só funcionam como deve ser se forem alavancadas outras atracções, que não são de certeza as 7 saias e as senhoras que alugam quartos...é o património a cultura...É preciso lembrarmo-nos que o público-alvo praticante de golfe a adepto do turismo de recreio é um publico não só com um nível de vida elevado, mas também exigente:não vai servir de muito a existência da marina e do golfe se não houver mais nada em termos culturais.

Considerava importante que todos os candidatos tivessem em mente que a Nazaré como destino não existe desde alguns anos para cá. Não existem planos de desenvolvimento turístico, não existe qualquer aproveitamento dos outros recursos existentes. A Nazaré tem que deixar de ser a praia e ser mais muito mais. Se estes lerem o PENT tirarão de lá umas boas e interessante ilações (enquanto estudante tive que o ler e estudar)


No que respeita à empregabilidade em turismo na Nazaré esta não existe. Empregados qualificados não são em número suficiente, incentivos para a criação de empresas e consequentemente de postos de trabalho não existem. Emprego em turismo na Nazaré tal como o Turismo é sazonal e pouco qualificado. Enquanto existir a mentalidade de que bastam os hotéis e a praia a nível de turismo e de turismo cultural a Nazaré não vai evoluir. Urge que deixem aparecer ideias e caras novas.

Por forma a concluir este meu email que acaba por ser um misto de sugestões, criticas e desabafos menciono que fazem falta inumeras coisas que tornem a Nazaré num destino turistico de eleição:
A construção deve ser adequada à envolvente urbana;
Faz falta um plano de turismo que não mencione os afamados golfe e marina;
É necessária uma inventariação de todos os recursos que existem;
Estabelecimentos hoteleiros e de restauração devem ser adaptados a quem os procura;
Fazem falta empresas de touring cultural e paisagístico e turismo de natureza;
É urgente uma boa promoção a nível nacional e internacional;
É urgente a abertura de novos horizontes.
Se a Nazaré passou para a Região de Turismo do Oeste, deve tomar como exemplo o bom que ai se faz;
Deve-se deixar de olhar para o passado e criar uma visão de futuro.

Atentamente:
Inês”

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